Há já vários anos que acompanho o Tour de France com grande entusiamo
na companhia do meu pai e irmão (pela televisão, com os divertidos comentários
de Luís Piçarra/Paulo Martins/Olivier Bonamici).
Se antes achava que fazia pouco sentido observar centenas de
homens a pedalar durante horas, com o tempo, comecei a respeitar estes atletas,
que chegam a pedalar mais de 200km por etapa e que fazem das provas de montanha,
entre os Pirenéus e os Alpes, um verdadeiro caso de superação da condição
humana. Por várias vezes vi a consagração do campeão Armstrong, ao cortar a
meta no Arco do Triunfo, e comecei a admirar o homem, que depois de vencer o
cancro, continuava a pedalar como ninguém e a somar vitórias.
Por isso, foi com incredulidade que reagi aos rumores de uso
de substâncias dopantes por aquele homem que considerava um verdadeiro herói. Era
simplesmente impossível, afinal, todos os controlos anti-doping tinham
resultado negativo logo, estas notícias só poderiam fazer parte de um complô
para manchar o nome e os feitos de um dos melhores atletas do nosso tempo.
Mas as provas, mesmo
que não comprovadas pelos exames, começaram a aparecer, assim como a confissão
de antigos colegas de equipa, e a dúvida adensou-se. Quando a USADA (Agência
Antidoping dos Estados Unidos) decide retirar todos os títulos conquistados por
Lance Armstrong a partir de 1999, incluído 7 títulos na Volta a França, e banir
o atleta do ciclismo, mesmo assim não quis acreditar e esperei pela defesa de
Armstrong, o que não aconteceu.
Quando Armstrong, num comunicado, abdica do direito de
defesa destas acusações comecei a temer o pior. Seria o maior atleta da
história do ciclismo uma farsa???
Numa entrevista concedida esta semana a Oprah Winfrey, o
ciclista confessou finalmente o uso de substâncias proibidas. Quase dez anos
depois, Armstrong admitiu a culpa. Enganou o sistema mas, sobretudo, enganou
uma legião de fãs e lançou uma onda de suspeitas sobre a modalidade que aprendi
a admirar e sobre um grupo de atletas que passarão a enfrentar olhares
suspeitos sempre que alcançarem feitos notáveis.
Contudo, reconheço que Armstrong impulsionou a modalidade
como ninguém, mesmo que na verdade seja um ídolo com pés de barro.
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