sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Lance Armstrong, um ídolo com pés de barro



Há já vários anos que acompanho o Tour de France com grande entusiamo na companhia do meu pai e irmão (pela televisão, com os divertidos comentários de Luís Piçarra/Paulo Martins/Olivier Bonamici).

Se antes achava que fazia pouco sentido observar centenas de homens a pedalar durante horas, com o tempo, comecei a respeitar estes atletas, que chegam a pedalar mais de 200km por etapa e que fazem das provas de montanha, entre os Pirenéus e os Alpes, um verdadeiro caso de superação da condição humana. Por várias vezes vi a consagração do campeão Armstrong, ao cortar a meta no Arco do Triunfo, e comecei a admirar o homem, que depois de vencer o cancro, continuava a pedalar como ninguém e a somar vitórias.


Por isso, foi com incredulidade que reagi aos rumores de uso de substâncias dopantes por aquele homem que considerava um verdadeiro herói. Era simplesmente impossível, afinal, todos os controlos anti-doping tinham resultado negativo logo, estas notícias só poderiam fazer parte de um complô para manchar o nome e os feitos de um dos melhores atletas do nosso tempo.

 Mas as provas, mesmo que não comprovadas pelos exames, começaram a aparecer, assim como a confissão de antigos colegas de equipa, e a dúvida adensou-se. Quando a USADA (Agência Antidoping dos Estados Unidos) decide retirar todos os títulos conquistados por Lance Armstrong a partir de 1999, incluído 7 títulos na Volta a França, e banir o atleta do ciclismo, mesmo assim não quis acreditar e esperei pela defesa de Armstrong, o que não aconteceu. 

Quando Armstrong, num comunicado, abdica do direito de defesa destas acusações comecei a temer o pior. Seria o maior atleta da história do ciclismo uma farsa???

Numa entrevista concedida esta semana a Oprah Winfrey, o ciclista confessou finalmente o uso de substâncias proibidas. Quase dez anos depois, Armstrong admitiu a culpa. Enganou o sistema mas, sobretudo, enganou uma legião de fãs e lançou uma onda de suspeitas sobre a modalidade que aprendi a admirar e sobre um grupo de atletas que passarão a enfrentar olhares suspeitos sempre que alcançarem feitos notáveis. 

Contudo, reconheço que Armstrong impulsionou a modalidade como ninguém, mesmo que na verdade seja um ídolo com pés de barro.

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